História de uma Médium e um Jogo de Búzios:

Uma moça começou a se interessar mais por religiões afro, após ouvir sua colega de trabalho dizer :
"É sério fulana, a mãe de santo é babadeira, fez o Andrézinho voltar pra mim, eu recomendo ela pra todo mundo. Ele ainda me bate, mas ela disse que isso logo vai passar."

A moça fica um pouco desconfiada, mesmo assim, queria conhecer novas religiões. Sempre foi católica não praticante, mas aquele mundo a fascinava desde pequena, ouvindo um terreiro perto de casa.

Ela marca uma consulta, a mãe de santo está trajada com roupa curta, os búzios estão num pano vermelho encima de uma mesa de ferro, ao lado tem bebidas, maquiagens e uma quentinha que a zeladora está terminando de comer. Ela pede pra moça dar o dinheiro do jogo ao rapaz na entrada da casa, R$ 200,00 reais por 40 minutos é o valor.

Pede para a menina se sentar, e enfim abre o oráculo, começa dizendo : "Você é filha de Oyá, e essa iaba é muito quente. Inclusive eu "consigo" ver pombagira no jogo, a sua é Dona Mulambo Navalha das 7 catacumbas. Ela pediu uma franga, mas disse que é só pra começar. Vamos fazer umas limpezas, você precisa de 7, depois comida de Oyá."

A moça diz : "Mas eu achei que não precisava de tantas limpezas, queria saber da minha espiritualidade."

A mãe de santo retruca : "Pois essa é a sua espiritualidade, essa pombagira é raríssima, "pombagira malandreada".

A moça sai com muitas listas da casa, com todos os valores exorbitantes.

Ao chegar na loja, conversa com o vendedor, conta tudo e pede descontos. Ele então orienta que antes que ela faça, que vá num terreiro antigo, naquele bairro mesmo. Ela pega o telefone e o endereço, liga para o terreiro e lhe informam que a sessão será no fim de semana.

Passando dias, a moça chega ao terreiro, tem bastante gente para ser atendida. Ela vê de longe uma moça de preto, fica nervosa ao vê-la, porém, acaba sendo atendida pela mesma. Após uma forte gargalhada, ela diz :

"Menina eu me chamo Maria Mulambo, e se tem uma coisa que eu não gosto é bagunça, principalmente com meu nome. A moça ao ouvir gela, fica nervosa, querendo sair correndo. A Pombagira segura seu braço e diz, você tem moça no seu caminhador, assim como todos, uma é irmã minha, mas eu não tenho permissão da minha senhora do vento pra dizer o nome dela, e fique tranquila, nós estamos de olho naquela mentirosa há tempos, só cobro o que ele (aponta pra Oxalá no terreiro) e minha patroa deixam."

A moça então vai pra casa, muito atordoada com a situação, apesar de Dona Mulambo ter lhe aplicado passe com sua saia preta. Chega exausta, dorme rapidamente. Sonha que está no Cais, mas tudo parece antigo, vê uma mulher se aproximar, negra, de estatura mediana, bonita. Ela lhe fala :

"Boa noite, meu nome é Rosa do Cais, você vai trabalhar comigo um dia, eu sou uma Malandra, e sou sua entidade, a Navalha é uma companheira da minha Linha. Eu gosto de caridade, ajudar as pessoas de forma simples, gosto de aconselhar mulheres a se amarem muito e ajudo homens a ter sucesso, quando são determinados. Eu nem podia dizer meu nome, você precisava desenvolver, não ouvir outros dizerem nomes de entidades, nós gostamos de falar diretamente e ninguém deve falar por nós. Mas você se lembrará. Isso você vai guardar."

A moça acorda um pouco cansada, porém feliz, mesmo lembrando pouco do sonho, só lembra de um Cais e uma dama.

Chega na empresa com rapidez, recebe a noticia que a colega no trabalho faltou, em seguida a empresa recebe um telefonema. São os tios da colega que faltou, ele afirmam : "O namorado Andrezinho transtornado, com muito ciúme a matou."

Ela (a moça) fica aflita com a noticia, uma angústia sem fim. Quer esquecer a tal "mãe de santo" e sofre a perda da colega.

Depois de um mês, começa a sentir forte vontade de ir ao terreiro, ver Dona Mulambo.
Chega cedo na casa, começam as orações, depois pedem aos Orixás e aos Pretos Velhos licença para chamar as comadres e compadres.
A moça fica tonta, não consegue segurar a energia, algo acontece, Dona Mulambo a abraça e diz :

"Filha, a umbanda lhe chama, essa é sua missão, aceite se for da sua vontade".
Após frequentar muitas giras, a moça entra, desenvolve com carinho e respeito. Chega o dia de confirmar algumas entidades. Dona 7 catacumbas risca com firmeza seu ponto, atira seu punhal na tábua, gargalha e é confirmada.
Depois vem a Malandra Rosa do Cais que a todos encanta, pede sua pemba vermelha, enfeita com uma rosa sua tábua, fala seu nome e é confirmada.
A moça volta cansada do trabalho mediúnico, mas com sensação positiva.
Batem na porta do terreiro, todos dizem quem será ? O cambone, já muito cansado diz: "Estamos fechados."

Mas Dona Mulambo ainda está em terra, e ela diz :

"Deixem ela entrar."

É a velha mãe de santo, que mentiu no jogo, ela está com fome, tem roupas rasgadas, os médiuns com clarividência desenvolvida veem obsessores em volta dela. Ela implora por perdão, diz que se arrependeu das coisas que fez, e o marido a largou quando os clientes começaram a abandonar seu jogo, quando começou a "perder" dinheiro.

A moça recebe Dona 7 Catacumbas, ela e Dona Mulambo realizam parte de um trabalho que será longo. Muita doutrinação e desobsessão.

No fim Rosa do Cais também vem rapidamente, abraça a velha senhora e lhe diz :
"Eu venho de uma Linha muito bonita, a senhora não conhece, mas irá conhecer, eu sou uma Malandra, e eu acolho mulheres como você."

Será que perdoaríamos alguém como a velha senhora ? 
Pois Rosa do Cais perdoou, porque essa Malandra é fundamentada nas Leis do Criador.



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