História de um Pai de santo e um médium cavalo do Zé Pelintra:


O médium chegou apressado no terreiro, era dia de curso sobre seu Zé Pelintra, o médium estava ansioso, muito animado em ver finalmente seu Zé ser estudado e ter sua Linha mais explorada. Apesar do zelador cobrar R$ 500,00 reais por mês pelo curso, o médium estava feliz para aprender. 
O pai de santo fez uma introdução rápida, fumava a todo instante e pedia para não ser interrompido com perguntas, solicitou que todos trouxessem objetos para a aula seguinte. 

O médium anotou tudo com carinho, ele é responsável e muito respeitoso, mas não sabe muito sobre o Seu Zé ainda, ouviu rumores de amigos, outras casas, leu sites no google, e apesar de gostar do zelador, sabia que ele ainda não dominava o assunto. 

O médium acorda cedo no dia da folga, quase esquece a lista em casa. Assim que retorna a casa para buscar o papel, ouve um chamado. 

"Fulano, eu sou o "Seu Zé" , precisamos conversar." 

Fica um pouco zonzo, desconfia da própria mediunidade, acha que é imaginação, sai correndo para pegar o ônibus. Começa a chover, quando chega próximo a loja de artigos religiosos, o papel no bolso está amassado, até um pouco molhado, mas alcança a loja. Ao chegar na porta, vê uma imagem de Zé, e escuta novamente :

"Fulano, estou perdendo a paciência, me ouça." 

Entra correndo, alcança o balcão. 
Pega a lista, com as mãos trêmulas, pede água a vendedora. 
Começa a ler a lista e a voz fica mais forte. Sem alternativa, se concentra e abre o coração pra ouvir. 

"Meu menino, o pai de santo ainda não está pronto pra falar da minha linha, ele quer agradar o Zé dele através de outras pessoas, ele também quer ganhar bango com o pouco que sabe, ele tem olho grande e pouca humildade. E isso não é certo, cada um tem sua própria luz, seu próprio fundamento, não somos iguais. Ele passou um "escrevedor" com as coisas do Zé dele, eu trabalho com outras coisas." 

O médium ficou atordoado, volta ao zelador e questiona com humildade. 

"E se meu Zé trabalhar com a cor preta/branca ? Eu posso mudar a vela para preta e branca ? 

O zelador fica muito incomodado, diz que as coisas da lista precisam ser seguidas. Porque é importante "fortalecer" a egregora da casa. 

O médium então escuta: "Existem muitas casas filho, nós vamos levar você pra conhecer outras." O médium pede desculpas e se afasta da casa.

Passam - se 3 meses, o médium decide fazer um trajeto diferente na volta do trabalho. Subindo uma ladeira pra chegar mais rápido, escuta forte batucada. Fica curioso, olha por cima do muro, um cambone vê e o convida para entrar, ele fica ressabiado, mas aceita. O lugar é humilde, mas é bem limpo, tudo iluminado, pessoas simples sendo atendidas. Uma médium está incorporada com seu Zé, ele se aproxima do médium e lhe fala: 

"Aqui temos regras, o seu Malandro pode usar vela preta e branca, mas a caridade precisa ser o pilar da sua vida." 

Surpreso, ele decide frequentar mais vezes, leva um tempo pra alinhar sua energia com o próprio Zé, porém, passado os anos, ele desenvolve mais e mais. Ajuda tanta gente que se orgulha de ter escolhido a Umbanda como raiz. 

Moral da história : Todo terreiro tem regras, mas cada Malandro ou Malandra tem seu próprio fundamento. Caso este fundamento seja condizente com a própria linha e não ofenda ninguém, vale a pena estudar. 

Lista para aprendizagem prática : 

O Pai de santo pediu vela preta e vermelha, o do médium usa preta e branca, porque é do Cruzeiro. 
O pai de santo pediu cravos vermelhos, e o Zé do médium cravos brancos. 
O pai de santo pediu búzios africanos, o Zé do médium preferia trabalhar com dados, ao invés de búzios. 
O pai de santo pediu farinha, dendê e muitos bifes, para todos os médiuns fazerem um grande padê, e colocar esse padê em frente a sua entidade. 
O Zé do médium pediu um prato separado com farofa e linguiça calabresa, apenas para ele. (Oferenda direcionada). 
O pai de santo disse que deveriam usar Navalhas, e o Zé do médium pediu um punhal pequeno. 
O pai de santo disse que a guia de todos é a vermelha e preta, de 7 em 7, consagrada ao Zé dele, que iria "proteger" todos, e ele assim ordenou. O Zé do médium pediu guia preta e branca, nas suas cores regentes, para trabalhar efetivamente. 

E muitas outras coisas foram discordadas. Como foi apresentado aqui, o erro não é questionar, o erro não é seguir uma lógica para suas entidades. 

O erro é seguir a boiada, enriquecendo um único patrão. Suas entidades merecem oferendas separadas, coisas separadas, dados próprios, baralhos próprios. Portanto, Cuidado. 

Fuja de locais que só visam dinheiro, que esquecem o que é caridade, ensinamento de terreiro. O terreiro é OBRIGADO a te ensinar, e de forma acessível, isso faz parte do tal ditado "Umbanda tem fundamento, é preciso preparar". 

Axé ! 

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