História da Malandra Maria Navalha das Almas e o Padê de Amarração:
"Certa vez uma mocinha que gostava muito de frequentar diversos terreiros, pediu á muitas Malandras de um Terreiro de Umbanda para fazerem um trabalho de amarração, ela buscava espíritos femininos para realizar um feitiço forte. Estava muito apaixonada por um médium da corrente, o médium já estava comprometido, era noivo de uma moça também de umbanda, ambos eram humildes, mas estavam construindo sua casinha e trabalhando bastante para manter a vida a dois. A mocinha queria o médium de qualquer forma, a qualquer custo, estava inclusive disposta a pagar altos valores caso fosse preciso. Ela observava atentamente uma Malandra de porte sério, altiva, usava calças pretas, uma camisa branca, chapéu aba larga, fumava um pequeno charuto, com uma vela preta um pouco grossa ao lado, ela era muito requisitada nas consultas da assistência. Era a Malandra Maria Navalha das Almas, ou a também chamada guardiã dos mistérios. A mocinha ficava curiosa com o nome, "guardiã dos mistérios", achando inclusive que aquela talvez fosse a Malandra mais poderosa, também pensava que se tinha uma vela preta acesa e tantas pessoas para atender, ela era a entidade certa para executar o trabalho. Mas apesar de sua insistência, e já ter conversado com outras Malandras, naquela noite não pode conversar com a Malandra Navalha das Almas, os cambonos lhe avisaram e pediram para que retornasse outro dia.
Mas a mocinha ficou furiosa, achou que era um ultraje nenhuma delas fazer prontamente seu pedido, principalmente aquela Maria. Mesmo assim, iria dar um jeito de fazer seu "pedido" ser atendido por ela.
Após muito procurar, conseguiu o contato de um senhor que fazia oferendas para qualquer entidade, bastava que a pessoa depositasse uma certa quantia de dinheiro, explicasse o pedido e a entidade, ele dizia que até iria fotografar a oferenda para o cliente, também poderia adicionar mais coisas, caso a pessoa desejasse, bastava pagar um valor separado.
Apesar do senhor não saber direito o que é a Linha da Malandragem e quem era Malandra Maria Navalha das Almas, ele brevemente aceitou, tendo em vista que a mocinha pagaria adiantado. Também pensou que essa poderia ser uma pombagira, como qualquer outra.
A mocinha pediu para colocar cartas de baralho, orientando ele conforme tinha visto em alguns sites.
O senhor fez um padê de dendê, regou com sangue de uma franga, colocou 7 rosas vermelhas, uma taça com licor de anis, um charuto de qualidade, colocou um 8 de copas e 5 de espadas, depois colocou os nomes da mocinha e do médium, e disse que estava feito.
A mocinha foi ao terreiro de umbanda como de costume, descobriu com uma velha fofoqueira na assistência, que a médium tal (noiva do homem) tinha faltado, porque estava com muita dor de cabeça. Logo então a mocinha viu seu coração disparar, procurava atentamente seu amor, sua grande paixão. Mas não encontrou.
Após a Gira dos pretos velhos, era hora da Gira dos Malandros e Malandras. A Malandra Maria Navalha das Almas chega forte, imponente, pede sua vela, que logo fica acesa, risca um cruzeiro no chão com pemba branca cruzada, coloca seu terço dentro e pede para que chamem sua convidada de honra.
A mocinha fica assustada, quer correr, vê que Navalha aponta para ela, indicando aos cambonos.
Ela fica frente a frente com a "Guardiã dos mistérios".
Maria então lhe diz, sabe porque me chamam assim ?
Porque eu sou a guardiã dos segredos de Omulu, ele que me permite estar aqui, ele tem os mistérios dentro de um cruzeiro de luz, que foi fortalecido por Oxalá e é dividido com Oyá. Eu faço curas, ajudo as pessoas doentes, e muitas estão doentes agora. Algumas estão tão doentes que nem a verdade na frente delas satisfaz, estão doentes com o ódio, com a soberba, com a mesquinhez e iludidas com falsos poderes.
Eu como dendê sim, mas quando vem da mão bendita, eu não como sangue, ainda mais de coração ferido, eu não bebo anis, sou mais meu velho conhaque, não gosto de rosas , prefiro papoulas. E essa minha vela negra é pra transmutar todo ódio das pessoas que vem me procurar. Mas de todas as coisas ruins daquele impostor , a pior delas foram as cartadas. A dor do 8 de copas (tristeza) vai te ferir e o 5 de espadas representa os conflitos que você trouxe aqui. Nem eu posso te ajudar, tamanho sofrimento que você procurou. Peça perdão ao Pai Maior pelo caminho que você escolheu seguir.
Minha filha está doente, mas é doença do homem, nada que você mandou, porque ela é uma filha de fé e nunca está sem proteção.
Se quer saber do homem que você tanto queria, ele está descansando, porque hoje arriou canjica ao Pai Maior (Oxalá).
Nunca mais brinque comigo mocinha, hoje com o ferro fere, amanhã será ferido.
Palavra de Maria Navalha das Almas."
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Plágio é crime.
Axé !