Malandra Ana do Cais
"Que saudade do tempo,
De jogar com alegria,
Me recordo o respeito, o sorriso no rosto,
A maior energia.
Lá na beira do Cais,
Berimbau se ouvia.
Eu chegava de branco,
E minha roupa branca voltava limpinha, na beira do Cais.
Na beira do Cais, berimbau se ouvia.
A roda famosa na beira do Cais,
lá no Cais da Bahia, na beira do Cais.
Na beira do Cais, berimbau se ouvia.
O Malandro jogava,
O sorriso no rosto, a maior alegria, na beira do Cais.
Na beira do Cais, berimbau se ouvia.
A cobra picava,
O veneno da cobra não me atingia, na beira do Cais."
Malandra Ana do Cais
Falar de Ana do Cais é encanto, mulher dos desejos, forte como um touro, teimosa como uma onça, a indomável mulher da Ribeira, em outrora com mainha, na beira do Rio, ê lavadeira...
Mas não queria aquilo pra si, queria alcançar o mar, as marés, as embarcações e os homens.
Os homens ? Sim, eles todos, Ana era muito ambiciosa, hoje se faz de rogada, mas usava tudo e a todos ao seu favor, Malandra como ninguém, tudo o que falavam : " É proibido Ana", não mexa ali, mais aguçava ela, mais atiçava.
Ana, mulher não deve beber, aí que ela bebia, bebia mais que dois marujos e um cigano andarilho juntos.
Ana, abaixa a saia, arrume tuas anaguas, pois Ana rasgava a saia, seduzia eles e depois se passava de boa moça.
Ana, mulher não fuma, aí que foi mais atrevida, enrolou fumo, pegou a chama da vela , acendeu e tragou com prazer o tabaco forte.
Ana, não ande com aqueles homens, lhe diziam. Sem ninguém perceber já estava mandando neles, tomava as decisões no grupo e enfiava goela a baixo, eles faziam tudo o que ela queria, e viam que os planos sujos dela davam certo. Foi assim que aprendeu a jogar cartas, roubar também, mas ninguém precisa desses detalhes.
Diziam, essa mulher é o cão, fez trato com o demônio, vendeu a alma, beata fazia sinal da cruz ao passar por ela.
Que nada, Ana não vendeu alma, não fez trato com o diabo, Ana só queria algo que sempre foi negado, escondido, impossibilitado. Algo que só foi conhecer depois de morta, depois de anos de escuridão, depois de reencontrar Maria, companhia de outras vidas.
Ao chegar , recuperar - se na colônia, Navalha lhe disse, venha Ana, aqui todas lutamos igual, não serás julgada, é liberdade o que procuras, e aqui vai encontrar isso e algo melhor: Felicidade.
Ana se fez livre, Ana se livrou, estava finalmente livre para evoluir.
Saravá Ana do Cais, Salve a Malandragem !






Obs: Imagem meramente ilustrativa.