"Quem me protege não dorme!"

Porém, no primeiro desalinhamento energético, a médium deixou se sucumbir, clamou pelas trevas da ignorância, chamou o malandro de demônio, disse que da zona inferior ele viria. Ele precisava dar cabo de seus inimigos.
Mas quem eram seus inimigos ?
Cada um que se colocasse a frente dela, cada homem ou mulher nessa terra que a aborrecesse. Pois, como filha de Santo, se dando auto título religioso, ela não via o porque de se aborrecer.
Pensava constantemente que qualquer um que lhe pisasse o calo merecia punição, não importava o que essa pessoa havia feito.
Na cota da sua dor, rancor e ira haviam muitos com diversos incômodos.
Havia seu ex marido, que irritado com seu temperamento inerte e personalidade fria, lhe abandonou, pediu a separação, porque não aguentava mais tantos projetos de vingança.
Nesse balaio de tristeza, havia raiva dela perante os amigos, que machucados com suas palavras duras, julgamentos e pensamentos inapropriados se afastaram.
Também estava presente sua sócia que não via com bons olhos, sua ambição acima do normal e desonestidade com os clientes.
A médium continuava seu trabalho normal, preparou de tudo para o Malandro, mesmo demonizando. Na casa de umbanda tentaram lhe "botar cabresto" como ela afirmava. Pediram para ajudar na limpeza, uma pequena quantia para as despesas, chegar mais cedo e principalmente estudar a doutrina da Umbanda . Isso a estressou, achava ultraje, pessoa antiga, se considerava acima do bem e do mal com seus três anos como mãe pequena, achava que apenas mais novos deveriam fazer tais serviços e não queria estudar, achava que só porque já tinha esse cargo recebido em outra casa, e já vinha desenvolvendo, merecia honrarias.
Preferiu sair do terreiro, trabalhar em casa era o certo em sua mente profana, começou a cobrar altos preços dos clientes, fez diversos assentamentos para malandros, imagens de todo tipo, e cada vez mais cobrando de seus "patos" como dizia ela, valores exorbitantes aos nossos olhos, mas que dentro dela ecoavam como "justos". De tudo colocava aos pés das entidades cultuadas a base de sangue, punhais, notas de altíssimo valor, comidas diversas, navalhas de prata, suor e tristeza dos desavisados, condenados que lhe seguiam cegamente.
Porém, um dia, a intuição lhe falhou, não estava mais acertando orientações para quem quer que fosse, das palavras e pontos que dizia só o mal vociferava. A bênção parecia lhe distante, na hora da incorporação piorou, não sentia malandro, nem pombagira, sentia arrepios estranhos, mesmo confusa, confiou que seriam as entidades de luz e amor que trabalhava desde que ingressou na religião.
Mas não eram, sentiu seu corpo gélido ao ter sua consciência acoplada a espíritos de baixo calão. Os clientes foram embora correndo, tamanha violência e energia pesada no ambiente.
A médium retorna a consciência, seu fiel cambone, o namorado é o único que não lhe abandona, não até agora. Ele lhe ampara, lhe cuida após a grave obsessão.
Mas quando ela retorna a si, ele começa a sentir se zonzo, cambaleia para os lados, o malandro do namorado incorpora.
Ela lhe diz :
"Isso é um absurdo, essas coisas acontecerem comigo, quem me protege nunca dorme."
"E o malandro lhe diz :
Entidades nunca dormem não moça, porém, quando elas não compactuam com as ações negativas, ludibriando as pessoas, enganando os outros, elas se afastam. Você fica você consigo mesma, o demônio não somos nós, é apenas o ser humano enfrentando a si mesmo."
Após desincorporar o médium está exausto, mas ela não aceita, começa uma briga, lhe diz que ele é que estava fingindo, que ele atrai energia negativa e afasta os clientes por ciúmes. Ela o humilha sem pestanejar. O qual muito magoado vai embora.
A médium segue a semana clamando pelo mal, não dá ouvidos as últimas entidades que tentam lhe fazer contato, quer a morte de seus desafetos. Busca através de feitiços perigosos e negativos a destruição de todos aqueles que lhe contrariaram.
No final da semana aluga um carro para ir ao cemitério, coloca os nomes dos "inimigos" em cova rasa, profere palavras ruins, acredita que era mentira do namorado incorporado, se vê acima do bem e do mal, tendo a certeza que suas entidades lhe amparam.
Retorna para o carro como se nada tivesse acontecido, o motorista se sente mal, mas nada poderia fazer, a corrida particular foi paga com antecedência e precisava do dinheiro, se benze e continua o caminho para levá-la de volta para casa.
Sofrem um acidente muito estranho, acabam engavetando o carro em outros carros em uma estrada muito movimentada, a médium teme a morte, chama pelos malandros, já com o corpo ensanguentado, o motorista está desacordado. Até nessa hora continua cruel, pensa :
"Pelo menos estou acordada, talvez ele tenha morrido, o importante é eu estar bem."
Outros motoristas chamam os bombeiros e a polícia, o motorista estava apenas desacordado, a médium fala sem parar, que foi tudo culpa dele.
Ao chegar no hospital, são rapidamente atendidos, os médicos dão para ela um sedativo.
Quando acorda, vê que está "inteira", se sente bem e satisfeita, diz:
"Sabia, quem me protege nunca dorme."
O médico entra no quarto, diz que poderia ser muito pior e que logo vai se adaptar. A médium não compreende.
Eis que tenta mexer as pernas.
Elas estão imóveis.
Começa a gritar, se desesperar.
Ficou sem movimento nas pernas. Nunca mais vai andar, lhe diz o doutor.
Faz grande escândalo, eles a contém.
Depois de um tempo retorna para casa, contratou uma enfermeira com o pouco dinheiro dos antigos clientes, a cadeira lhe ojeriza. Sente pena de si mesma.
Vê uma energia forte vindo em sua direção, a energia se torna uma entidade.
Grita com o malandro sem nenhum respeito.
Diz :
"Porque me abandonaram ?"
Ele lhe responde:
"Você se abandonou primeiro."
Essa história me foi passada por intuição, depois de refletir sobre essa frase. Nossas entidades de luz e amor realmente não medem esforços para nos proteger, nos defender, cuidar de nós, acolher nossas dores ou nos fazer refletir. Infelizmente algumas pessoas, inclusive nós mesmos temos desejos mundanos, infantis, raivas que a própria encarnação propícia para nossa expiação e crescimento, alguns conseguem se recuperar nesse processo e levar a vida espiritual com dignidade, outros chafurdam em lama e se associam a espíritos grosseiros e nefastos. Por mais compromisso que nossas entidades tenham com a gente, depende da nossa vibração, vigília e caráter para continuar seu trabalho. Porque não adianta eu falar a tal frase e continuar fazendo, pensando ou ruminando o pior para meus irmãos de jornada evolutiva.
Espero que vocês tenham gostado.
Autoria: Priscila de Iemanjá, com algumas intuições.
Salve a Malandragem!
Salve todos os Malandros e Malandras!
Axé!