Malandra da Estrada



Olá queridos seguidores, leitores e amigos do Blog Malandros e Malandras, peço mais uma vez desculpas pela minha demora, mas hoje, conforme o combinado, irei postar sobre a Malandra da Estrada, ou como também é conhecida "Dama dos Dominós":

A Malandra da Estrada é uma Malandra com humor a meio termo, quase sempre alegre, com bastante energia, vigor nos terreiros de umbanda. Entretanto, sua vida foi muito sofrida, a que conheci, sofreu muito nas mãos dos homens, era a mais velha de seis irmãos, com uma infância pobre no interior da Bahia. Sua família tentava sobreviver no meio "do nada", plantavam o que conseguiam sob o sol escaldante do Nordeste, a seca avançava cada vez mais, e a vida muito sacrificante. A mãe teve filhos de homens diferentes, que sempre lhe prometiam tirar sua vida da miséria, mas nunca cumpriam as promessas, deixando para trás um rastro de dor e dificuldades. Em uma dessas "aventuras", sua mãe se envolveu com um homem muito cruel e violento, apesar de dizer a mãe que seria uma má ideia colocar aquele forasteiro dentro da casa de pau a pique, sua mãe não lhe deu ouvidos, irritou - se pela filha se intrometer na sua vida amorosa. Quando a mãe saia para lavar roupas em um rio afastado do casebre, ele estuprava as que ficavam, quase sempre ameaçando com seu facão, apesar das meninas tentarem se defender, o tom ameaçador dele, certa conivência da mãe, as impediam de parar os abusos. Certo dia, achando que iria conseguir satisfazer seus desejos sexuais, quis obrigar a mais nova a deitar -se com ele, a mais velha tomada por uma raiva amargurada, sustentada por anos de aflição, matou o homem com o grande facão, que ele sempre as ameaçou. Quando a mãe chegou, quis saber de tudo com detalhes, ouviu o choro da pequena, mas ficou com raiva da sua filha mais velha, disse que mesmo que fizesse essas coisas, ela o amava muito e expulsou a filha de casa com a roupa do corpo.

Sem saber para onde ir, sem ter o que comer, ela vagou por horas até a estrada de terra que ficava ao longe da casinha, alguns homens lhe incomodaram, mas continuou seguindo. Conseguiu trabalho no meretricio da cidade, entretanto, sua postura forte, "brava", irritou os primeiros clientes, fazendo o dono querer expulsa - la, para não voltar para a rua, fez um trato com o dono, trabalharia em qualquer serviço, faxina, no bar ou qualquer outra coisa. Seu desespero e suplicio foi tanto, que o velho senhor barbudo de camisa brega deixou ela ficar, isso aliviou seu coração, mesmo que momentaneamente. 

Teve um dia que o bordel estava muito cheio, na realidade a Rua do Fogo estava lotada de homens de vários níveis sociais, todos estavam muito animados numa noite de lua cheia, tudo parecia correr calmamente, sem nenhum problema, mas alguns clientes começaram a brigar no bordel, estavam muito bêbados e brigavam por uma prostituta, o dono precisou ser chamado, as coisas estavam fora de controle, ele percebeu que faltavam seguranças, e que a briga já tinha se expandido, foi assim que chamou a serviçal da limpeza para ajudar na briga. Ela conseguiu expulsar os baderneiros, e a situação apaziguou - se, dali em diante ele pediu que ela cuidasse da segurança do lugar, muitos homens ficaram com raiva disso, mas ela não se importou. Fez outro trato com o dono, pedindo para usar calças e amarrar o cabelo, passava desapercebida por todos, parecendo um "novo segurança". Era muito amada pelas meninas, porque não era grosseira como os antigos seguranças, que a essa altura tinham sido descobertos, pois haviam roubado o dono e por isso faltaram naquele dia. Já ela, conquistou a confiança de muitos, a amizade dos clientes mais antigos e das velhas senhoras que iam escondido ao bordel jogar, todos estavam na mesma situação ali, escondidos no sub mundo, vivendo outras vidas. Aprendeu a jogar muitos jogos na saleta aos fundos que guardava apostadores viciados do bairro, rolando dados sem compromisso, baralhos diversos e dominós de osso. Coordenava tudo para que o dono sempre confiasse, jogava no inicio da noite, em dias de pouco movimento, estava encantada com o movimento que a sua vida tomou. Era uma jogadora nata, vencendo muitas vezes, se especializando na mesa e no poder que ela proporcionava, numa dessas noites com o Bordel em festa, um homem se aproximou dela, era amigo do cafetão, ele tentou diversas vezes enamorar - lhe , com ela fugindo das escapadas. Apesar de ter tido uma vida sexual intensa, com pessoas diversas, não queria se aliar a ninguém, queria continuar com seu trabalho, sua vida e "liberdade". Mas o homem foi tão enfático, investiu tudo para lhe conquistar, percebeu que ela não era de flores, ela era de luta, após muito tempo cortejando, ela finalmente cedeu, o homem disse que iria conversar em breve com o dono, para conseguir sua liberdade. Mas não foi isso o que fez, após alguns meses de promessas, o homem se envolveu com uma das prostitutas de outro cabaré próximo, ele achou que a mulher "brava" nunca ia saber, mas um dos seguranças do bordel estava de folga e presenciou tudo, contou tudo para a colega, que armou uma "arapuca", para pega -lo em flagrante e confirmar a traição. Ele acabou caindo na armadilha e ela furiosa com a situação partiu para cima dele, começaram a brigar fortemente no quarto, foi quando ela o golpeou com um facão que havia escondido e ele retribuiu com um tiro.

Após esse infeliz desencarne, a mulher necessitou de muito amparo espiritual, sua migração e aceitação da morte foi um processo difícil, passou por situações terríveis, sendo perseguida pelo antigo "namorado" e pelo padrasto, o caminho para a salvação espiritual veio depois de anos de sofrimento e perdição. Mas recebeu sua oportunidade de regeneração, como Malandra de Umbanda viria para cuidar das pessoas, na prática do bem, da caridade e lealdade, curando seus preconceitos, orientando e acolhendo quem necessitasse de uma palavra de carinho. É especialista no cuidado de relacionamentos abusivos, abertura de caminhos, recuperação de pessoas que sofreram violências, vícios, emprego, negócios e harmonização familiar. Muito humilde, exige isso de suas médiuns, procurando fazer seu trabalho espiritual da melhor forma, é popular nas macumbas, pois todos sabem que além de entidade, eles tem uma grande amiga.

Trabalha no Agrupamento das Malandras e Malandrinhas da Estrada na Linha da Malandragem da Umbanda.

Características:

Indumentária: Em geral usam mais calças, mas existem algumas raras que podem utilizar saias, usam camisas de botão, camisas listradas, batas tradicionais. Seus chapéu são quase sempre aba larga, mas sem muito brilho ou enfeite, gostam de usar medalhas e argolas, apesar de algumas utilizarem calças, as pessoas tendem a achar que não são vaidosas, mas são, independente do uso de calças ou saias, gostam de estar arrumadas. 

Cores: É mais comum usar vermelho e branco, raramente preto e branco (prevalecendo a cor branca).

Bebidas: Cerveja branca, cachaças fortes, preferem tulipas e copos de bar do tipo americano, poucas utilizam taças.

Comidas: Salame temperado com limão, farofa de carne seca, queijo coalho frito, carne de sol, linguiça frita no dendê, entre outras comidas.

Fundamentos: Facas, dominó branco, terra de estrada aberta, baralhos, samba de raiz, partido alto, navalhas, pedras vermelhas, punhais, dados vermelhos, dados coloridos, velas brancas, velas vermelhas e brancas, , ligação com São Jorge, cravos, entre outras coisas.

Espero que vocês tenham gostado !
Lembrando que todas as entidades são diferentes, eu relatei a história de uma Malandra da Estrada e aspectos gerais para ensinar vocês.
As Imagens são meramente ilustrativas.

É totalmente proibida a cópia deste material, parcial ou integralmente, sem autorização expressa (prévia) da sua autora. Não copie, plágio é crime.
Muito axé a todos e Salve a Malandra da Estrada!


Salve a Malandragem !

"Lá no cabaré,
Nunca teve confusão.
Porque Maria,
Botava ordem meu irmão."

Postagens mais visitadas deste blog

Falange Camisa Preta e Malandro Miguel (Miguelzinho):

Pontos Cantados na Umbanda ao Seu Zé Pelintra e ao Povo da Malandragem :

Malandro das 7 Encruzilhadas